Brasília: Cenário em que o rock ressurge das cinzas

Por Marcella Matos

Com vinte anos de atraso o rock se consagra, finalmente, em terras ‘brasilis’; falo da década de 80, pois, se por um lado o período ainda carregava o peso dos anos anteriores (já que o rock da década de 70, no Brasil, andava meio desmorecido devido ao estouro (e popularidade) de gêneros musicais, como a dance music/discoteca e MPB, que dominava todo o cenário musical da época (e era o que se ouvia constantemente nas rádios e demais espaços); por outro, já se antevia um panorama mais leve, em decorrência do espaço maior de liberdade política, que acarretaria, mais à frente, no fim da ditadura militar. Inúmeras bandas surgiram nessa época, mais precisamente no finalzinho da década de 70, e o embrião do fenômeno (do estouro de bandas de rock) foi Brasília… De lá surgiram grupos que consagraram de vez o rock no Brasil. Mas lembrando que o cenário do rock em Brasília surgiu ainda na década de 60, com bandas como Os Primitivos, Os Reges e Os Infernais. O cenário só viria a se solidificar na década de 80. 

 

As moças e os rapazes de Brasília desfrutavam de uma vida, digamos, de bonanças e regalias, pois a grande maioria eram filhos de professores, desembargadores e diplomatas muito bem-sucedidos); viagens para fora do Brasil eram constantes (principalmente a países onde o Rock efervescia, como a Inglaterra e os Estados Unidos), e de lá traziam os melhores discos de rock, punk e punk rock da época; beberam diretamente da fonte que viriam, logicamente, a influenciá-los.  

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Legião Urbana: Um dos grandes expoentes do rock nacional

A ‘turma da colina’, como eram conhecidos, formariam mais à frente bandas como o Aborto Elétrico, Plebe RudeFusão, 5ª Coluna e XXX; estes jovens se encontravam nas colinas (conjunto de prédios habitacionais, próximo à UnB), onde ‘trocavam figurinhas’ acerca do estilo musical que fervilhava lá fora…

O embrião responsável pelo estouro da cena musical em Brasília, e pelo surgimento de bandas como Legião Urbana e Capital Inicial, foi o Aborto Elétrico, que contava, em sua formação inicial, com Renato Russo (baixo), André Pretorius (guitarra) e Fê Lemos (bateria). Após o sucesso do primeiro show, que correu de boca em boca, a banda conquistou notoriedade e centenas de fãs, que por sua vez formariam bandas também… Iria surgir, desta forma, um cenário musical intenso, caloroso e vigoroso em Brasília.

 Um tempinho depois o Aborto Elétrico encerra suas atividades… Das cinzas do Aborto surgiu o Capital Inicial (com Dinho Ouro Preto como vocalista, que por sinal imitava Renato Russo quando jovem). Em entrevista a Revista Rolling Stone, ele disse: “Sabia que ele [Renato Russo] era melhor do que eu e que nunca seria como ele”. E enquanto isso a Legião Urbana se formava. 

Renato Russo, em um breve período do início dos anos 80, seguiu carreira solo; ele se apresentava sob a alcunha “O trovador solitário”). Algumas músicas do Aborto Elétrico foram divididas entre as duas bandas (Capital Inicial e Legião Urbana); outras foram simplesmente engavetadas… Até o momento em que o Capital Inicial gravou o MTV Especial: Aborto Elétrico, no qual interpretam canções inéditas da extinta banda, como Baader-Meinhof Blues nº1, Construção CivilAnúncio de RefrigerantesLove Song OneHeroínaBenzinaSubmissaHelicópteros no CéuDespertar dos Mortos.

 

 

Em 2012 a Legião Urbana comemorou trinta anos de formação e, entre uma comemoração e outra, dois shows foram realizados ( 29/05 e 30/05); os demais integrantes da banda convidaram o ator Wagner Moura (vocalista da banda Sua Mãe) para ocupar a posição de vocalista da Legião; Wagner cantou juntamente com Marcelo Bonfá, Dado Villa-Lobos e a plateia; o show, transmitido pela MTV, contou com a presença de sete mil pessoas.  Segundo o ator, a noite do show foi a mais emocionante de sua vida. Bonfá e Villa-Lobos enfatizam que tudo não passa de uma homenagem, e que Renato Russo é insubstituível.

 “O rock de Brasília é, sem dúvida nenhuma, um dos maiores acontecimentos da cultura brasileira dos anos 80, e Renato Russo é a expressão maior desse movimento. Assim como o mundo não seria o que é se não fosse Shakespeare, minha geração não seria o que é hoje se não fosse a Legião Urbana”, Disse Wagner Moura.

Muitas bandas que fazem parte da história do rock nacional, cuja importância é imensurável para o cenário atual,  saíram de Brasília: Cássia Eller, Paralamas do Sucesso, Raimundos, Móveis Coloniais de Acaju… Perante a importância de Brasília para o desenvolvimento do rock nacional, já foram lançados muitos materiais sobre o tema. Enfatizo o livro O diário da turma 1976 – 1986: a história do rock de Brasília, escrito por Paulo Marchetti e o documentário Rock Brasília – Era de Ouro, cuja direção focou a cargo de Vladimir Carvalho. 

 

 

O rock de Brasília representou toda uma geração e, sem dúvida, seus bons frutos foram colhidos ao longo dos anos… Afinal de contas o Brasil passaria por graves crises, anos mais tarde, no qual jovens famintos por liberdade e insatisfeitos com os rumos tomados pelo país (e pela falta de ética na política) tomariam as ruas.. Basta ligarmos o rádio para comprovarmos o quão longe a Legião Urbana chegou, pois não há um domingo que não toque uma música da banda, uma notícia de corrupção que não nos faça lembrar  Que País é esse? ; sua  música é atemporal e permanecerá para sempre em nossas memórias. 

 

LETRA DE FAROESTE CABOCLO:

E lá chegando foi tomar um cafezinho
E encontrou um boiadeiro com quem foi falar
E o boiadeiro tinha uma passagem
Ia perder a viagem mas João foi lhe salvar:
Dizia ele – Estou indo pra Brasília
Nesse país lugar melhor não há
Tô precisando visitar a minha filha
Eu fico aqui e você vai no meu lugar

O João aceitou sua proposta
E num ônibus entrou no Planalto central…

 

MODO DE VIDA DOS JOVENS DE BRASÍLIA:

PRESTE ATENÇÃO NA LETRA DO VÍDEO: O DIA A DIA DA TURMA DA BRASÍLIA